
Chumbo
Mecanismo de toxicidade do chumbo
O chumbo não tem qualquer atividade biológica no nosso organismo, o que condiciona a sua absorção e tem como consequência um défice em recetores específicos, condicionando a sua farmacocinética e farmacodinâmica. Este metal encontra-se distribuído de forma diferente nos diferentes compartimentos do organismo, sendo que a maior parte da sua absorção ocorre a nível intestinal e a sua acumulação é notória ao nível dos ossos. Tem ainda a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, sendo este processo condicionado pelo estado de maturação desta estrutura, e esta, por sua vez, é condicionada pela idade do individuo e pelo seu estado nutricional [1]. Em circulação, parte do chumbo encontra-se disperso no plasma. Contudo a maior parte está associada aos eritrócitos (por ligação à sua membrana celular) ou a proteínas plasmáticas [1].
Desta distribuição ubiquitária resultam processos de toxicidade e alterações no metabolismo normal do individuo. Um dos principais efeitos tóxicos da intoxicação por chumbo é o desenvolvimento de um estado anémico que pode ainda ser mais acentuado no caso de o indivíduo sofrer de uma carência de ferro. Tanto o ferro como o chumbo são metais divalentes e aparentemente apresentam transportadores comuns, quer a nível intestinal (DMT1) quer a nível plasmático [1]. Assim, o mecanismo pelo qual o chumbo parece estar relacionado com o aparecimento de anemias é explicado pela alteração na síntese do grupo heme que este metal provoca, a nível da medula óssea. Por outro lado, pensa-se que este metal inibe reversivelmente a enzima desidratase do ácido δ-aminolevulínico (ALAD), levando a uma acumulação do ácido em questão que será posteriormente eliminado na urina em vez de ser utilizado para a síntese do grupo heme [1].
A absorção de chumbo a nível intestinal poderá condicionar a sua absorção pela barreira hematoencefálica que, por sua vez, ocorre através dos canais de cálcio e da difusão de complexos de chumbo. Existem ainda evidências de que o aumento da permeabilidade ao chumbo que algumas pessoas apresentam está relacionado com a diminuição da expressão das proteínas que compõem as tigh junctions [1]. Uma vez no sistema nervoso central, vai alterar o processo de maturação dos oligodendrócitos a partir das suas células precursoras, lebvando a mudanças na morfologia da mielina, o que condicionam a formação das bainhas de mielina e a fluidez da membrana celular. A passagem deste metal pela barreira hematoencefálica condiciona também o metabolismo da dopamina, alterando os seus níveis e condicionando os movimentos voluntários e involuntários dos indivíduos [1]. Como consequências clínicas, ocorrem alterações na condução nervosa, fenómenos de hiperatividade e défices neurológicos e cognitivos irreversíveis.
Referências:
[1] Kordas K. Iron, Lead, and Children's Behavior and Cognition. Annual Review of Nutrition. 2010;30:123-48.
[2] http://www.asociacioneducar.com/newsletter/enero/original_clip_image002_0002.jpg (19-05-2015)
[3]http://www.laboratoriopioledo.pt/_imagens/?macro=imgDetalhe_s1&img=2009/Dec/sangue3_65qy_egh3.jpg (19-05-2015)
[4]http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/d457ca0e798dd51f1118972115e6c03f.jpg (19-05-2015)

Fig.1 - Cérebro humano [2].

Fig.2 - Eritrócitos humanos [3].

Fig.3 - Trato gastrointestinal humano [4].