top of page

 

 

 

O chumbo é um metal que está naturalmente presente na crosta terrestre, e como tal pode ser encontrado em qualquer parte do meio ambiente. A quantificação da sua exposição é um processo complexo uma vez que este metal é muitas vezes encontrado como contaminante dos alimentos, água ou até mesmo do lixo doméstico, o que tem como efeito direto o facto deste composto não ser visível para deteção.

 

 

 

Existem algumas infraestruturas e determinados produtos que representam um perigo para a saúde da população em geral no que toca à exposição ao chumbo [1]:

  • Casas velhas e com tintas em deterioração apresentam grandes perigos enquanto possíveis meios de intoxicação por chumbo principalmente para as pessoas que vivem nas áreas onde há casas pintadas com este tipo de tintas ;

  • Materiais de cristal, como copos e algumas porcelanas;

  • Alguns produtos cosméticos, particularmente tintas para pintar o cabelo em tons de cinzento;

  • Brinquedos;

  • O tabaco, uma vez que contém uma pequena quantidade de chumbo, pode expôr vários individuos pela via inalatória;

  • A gasolina (hoje em dia já não).

 

 

 

A ingestão é a principal via de exposição para a população em geral [1], sendo especialmente importante nas crianças que apresentam uma facilidade reforçada para colocar na boca os brinquedos e objetos que estiveram em contacto com o pó. No caso da exposição ocupacional a via de maior importância é a inalação [1]. É de salientar que os efeitos tóxicos são os mesmos, qualquer que seja a via de exposição. A via cutânea tem apenas um papel importante na exposição ao chumbo orgânico [1].

 

 

Assim sendo, como podemos estar expostos ao chumbo? [2]

1.Inalação de fumos contendo chumbo ou então de pós onde este metal esteja presente;

2.Ingestão de pós contendo chumbo;

3.Contacto direto com pó com partículas de chumbo (principalmente via cutânea, sendo que a pessoa cuja roupa foi contaminada poderá expor outros membros da família a este problema).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Existem alguns empregos em que o perigo de exposição ao chumbo é maior [3]:

•    Artistas (tintas podem conter chumbo);

•    Fabricantes de baterias

•    Construtores civis;

•    Mineiros;

•    Polícias (as balas podem conter chumbo);

•    Produtores de vidro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Grupos de risco

 

Crianças [4,5]

 

Não existe documentado nenhum nível de exposição seguro para crianças, sendo que mesmo baixos níveis de contacto com chumbo podem causar danos cerebrais ainda que ténues. Tendo em consideração os fatores demográficos, para um mesmo nível de exposição a esta substância as crianças irão receber uma maior dose/kg corporal. Para além disso, a taxa de absorção de chumbo nas crianças é também mais elevada em relação a um adulto sendo que enquanto um adulto absorve cerca de 5-10% do chumbo a que é exposto, uma criança poderá absorver até 50% e este valor é ainda dependente do seu estado nutricional. As consequências mais graves para esta faixa etária são o atraso no desenvolvimento de capacidades como a rapidez de raciocínio, a atenção nas aulas, a dificuldade em aprender a ler e a escrever e até mesmo a formação de ossos e dentes mais frágeis. Esta última consequência advém do facto deste composto competir com o cálcio para o se transportador e de a infância ser um período de grande exigência nutricional a nível desta última substância.

A maioria das crianças não fica envenenada com chumbo por ingerir lascas de tinta de casas em remodelação mas sim por terem poeira de chumbo nas mãos e brinquedos e por não as higienizarem de forma correta. O facto de este grupo de risco ter tendência para brincar perto de áreas com casas em remodelação faz com que estejam mais expostas à poeira com partículas de chumbo e leva a que estas sejam inaladas.

 

 

 

 

Grávida e feto [6]

 

Apresentam-se como um grupo de risco uma vez que a placenta não tem a capacidade de funcionar como barreira à passagem do chumbo. Desta forma, os níveis deste metal no líquido do cordão umbilical estão intimamente relacionados com os níveis plasmáticos maternos. Por outro lado, os níveis séricos de ferro da mãe podem também condicionar a passagem transplacentária de chumbo sendo que, estas variáveis de relacionam de forma inversa. Ou seja, quanto maior for o consumo de ferro durante a gravidez, menores serão os níveis de chumbo no cordão umbilical e menor será a probabilidade de o feto desenvolver qualquer tipo de défice cognitivo ou neurológico. No caso de haver uma elevada passagem deste metal pela placenta e de a grávida apresentar elevados níveis séricos, o recém-nascido poderá apresentar atrasos na resposta do tronco-cerebral a estímulos auditivos e movimentos mais frenéticos.

A fase da gravidez em que ocorre a exposição ao chumbo pode conduzir a diferentes efeitos sobre no desenvolvimento intrauterino e perinatal da criança, sendo que os efeitos são mais graves quando a exposição ocorre no primeiro trimestre da gravidez. Em termos de efeitos neurológicos uma exposição pré-natal ao chumbo pode retardar o desenvolvimento de células oligodendríticas, resultando na formação de mielina disfuncional. Esta exposição precoce parece ainda ter mais efeitos negativos no desenvolvimento do sistema dopaminérgico do que a exposição perinatal.

Em circunstâncias normais o turnover ósseo e o tempo de semivida do chumbo são processos demorados, sendo o tempo de semivida deste composto no osso cerca de 20 anos. Por outro lado, se houver um aumento no turnover, o chumbo presente no osso será mobilizado para a corrente sanguínea. Este é um processo que se verifica nas grávidas com bastante frequência, o que as torna um grupo de risco para intoxicações por este composto. Para a grávida a consequência mais grave desta exposição ao chumbo é a possibilidade de aborto espontâneo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fig.1 – Produto contendo chumbo na sua composição [7].

 

  Vias de exposição ao chumbo e grupos de risco  

Fig.9 - Alerta sobre o perigo do chumbo em crianças [15].

 

Fig.8 - Exposição de crianças ao chumbo[14].

 

Fig.7 - Aviso sobre o conteúdo em chumbo dos cosméticos [13].

 

Fig.3 - Cosméticos contendo chumbo [9]

 

Fig.2 - Mineiros [8].

 

Fig. 4- Brinquedos contendo chumbo [10]

 

Fig.5 -Propaganda a tinta contendo chumbo [11].

 

Fig.6 - Copos de cristal contendo chumbo [12]

 

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Portugal

Toxicologia Mecanística - 2015

bottom of page