
Chumbo
Tratamento de intoxicações por chumbo
Antes de qualquer tratamento, é necessário identificar a fonte de contaminação por chumbo e procurar eliminá-la ou evitar a continuação da exposição a este composto.
Qualquer que seja o valor obtido quanto à concentração de chumbo no sangue, qualquer indivíduo, especialmente crianças, deve iniciar o tratamento caso apresente sintomas de envenenamento por chumbo. A terapia com quelantes é especialmente recomendada para indivíduos com valores séricos de chumbo iguais ou superiores a 45µg/Dl.
Normalmente, o chumbo é de difícil remoção no organismo. Os tratamentos são prolongados e podem levar a muitos efeitos colaterais, devendo ser sempre monitorizados.
O ácido dimercaptosuccínico (DMSA), administrado por via oral, é um quelante de chumbo, que leva à sua excreção pela urina, sendo um dos mais eficazes no tratamento da intoxicação por chumbo. Os efeitos adversos mais comuns do DMSA são erupções cutâneas, náuseas, vómitos, diarreia, perda de apetite, sensação de sabor metálico na boca e valores elevados de transaminases (anomalias na função hepática) [1]. O DMSA, ao contrário do EDTACaNa 2 por via oral e da D-penicilamina, não aumenta a absorção de chumbo presente do trato gastrintestinal. Assim, é considerado um composto seguro para tratar crianças intoxicadas com chumbo que ainda estejam expostas em situação ambiental. Apresenta uma boa eficácia e segurança em adultos e crianças, portanto. Por outro lado, o DMSA parece mobilizar chumbo de diversos compartimentos teciduais (cérebro, rins, fígado e osso trabecular) sem causar redistribuirão que poderia piorar ou causar sintomatologia. Porém, não deve ser administrado a grávidas, por ter efeito teratogénico, preferindo-se nesses casos o uso de EDTACaNa2 [1]. Alguns estudos demonstram que, já no primeiro dia de tratamento, há excreção de chumbo em quantidade maior que o chumbo contido no compartimento extracelular [2].
O carvão ativado também pode ser útil na remoção, por quelatação, do chumbo acumulado no trato gastrointestinal, sendo este composto eliminado nas fezes [3].
Quando a concentração de chumbo é tão alta que implica um elevado risco de lesão cerebral, é preciso hospitalizar urgentemente.Nesse caso dimercaprol (BAL) e o edetato de cálcio dissódico (EDTACaNa2) são administrados por via intravenosa, sendo este último um dos mais eficazes no tratamento de intoxicações por chumbo [1]. O tratamento dura de 5 a 7 dias consecutivos para evitar o esgotamento das reservas de outros metais essenciais no organismo, particularmente as de zinco, uma vez que estes podem também ser quelatados por estes compostos e eliminados na urina, juntamente com o chumbo. Líquidos são dados aos pacientes por via endovenosa ou por via oral para evitar os vómitos que o dimercaprol pode provocar. O tratamento por vezes deve ser repetido depois de um período de interrupção, caso não tenha surtido efeito numa primeira fase. Pode ser necessário a administração de suplementos de ferro e zinco concomitantemente ao tratamento.
A associação de dimercaprol com edetato de cálcio dissódico é utilizada em casos de adultos com sintomatologia encefalopática ou em crianças mesmo sem sintomas a nível do sistema nervoso central, pois, ao contrário do EDTACaNa2, o dimercaprol passa a barreira hematoencefálica, quelando o chumbo presente no cérebro ou impedindo que o chumbo mobilizado durante o uso do EDTA atinja o cérebro da criança [3].
O tratamento com EDTACaNa2 leva à redução dos níveis plasmáticos de chumbo em alguns dias e a reversão dos efeitos hematológicos, com o restabelecimento dos níveis normais de ALA-D, ALA-U e protoporfirina eritrocitária (de normalização mais lenta, devido ao tempo de semivida dos eritrócitos), bem como o aumento da excreção urinária de chumbo [3]. Os efeitos adversos do edetato de cálcio disódico são normalmente causados pela perda de zinco e consistem em lesão renal (reversível), aumento dos valores de cálcio no sangue, febre e diarreia [3]. O outro efeito colateral prende-se com o fato de quelatar apenas o chumbo contido no compartimento extracelular, criando um gradiente de concentração que pode provocar uma mobilização muito rápida do chumbo em direção ao plasma, causando uma elevação abrupta da plumbemia, que se traduz num aumento da sintomatologia associada a intoxicações por chumbo. A administração de dimercaprol, por via intramuscular, a cada 4 horas, diminui a ação do chumbo sobre o SNC, uma vez que consegue passar a BHE. No entanto, o tratamento com BAL tem a desvantagem de poder causar hemólise no indivíduo [1].
Quando cessa o tratamento, a concentração de chumbo no sangue tende normalmente a aumentar de novo, uma vez que se produz uma nova libertação do chumbo ainda armazenado nos tecidos do organismo. Contudo, a D-penicilamina por via oral pode ajudar a eliminar este chumbo, administrando-se a mesma 2 dias após o fim do tratamento, juntamente com edetato de cálcio disódico [1]. Em geral, são administrados suplementos de ferro, zinco e cobre, para compensar as perdas destes metais durante o tratamento com D-penicilamina a longo prazo. Em casos de adultos com sintomatologia encefalopática ou em crianças mesmo sem sintomas a nível do sistema nervoso central, a D-penicilamina é menos indicada, devido à sua baixa eficácia e potenciais efeitos colaterais, tais como erupções cutâneas, aparecimento de proteínas na urina e diminuição dos glóbulos brancos. Estas reações são reversíveis se a D-penicilamina for rapidamente interrompida.
Nenhum destes medicamentos deve ser prescrito com fins preventivos, já que podem aumentar a absorção de chumbo nesta fase [1].

Fig.1 - DMSA [4].

Fig.2 - Carvão ativado[5].

Fig.3 - BAL [6]

Fig.4 - Quelatação do chumbo (M) pelo EDTA [7].

Fig.5 - D-penicilamina [8].
Referências:
[1] Manual Merck. http://www.manualmerck.net/?id=301&cn=1586
[2] Bradberry S, Vale A. Dimercaptosuccinic acid (succimer; DMSA) in inorganic lead poisoning. Clinical toxicology. 2009;47(7):617-31.
[3] De Capitani, Eduardo M.; Diagnosis and treatment of lead poisoning in children and adults; Simpósio: Chumbo e a Saúde Humana, Capítulo VII; Departamento de Clínica Médica. Centro de Controle de Intoxicações. Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP.; Medicina (Ribeirão Preto) 2009;42(3): 319-29
[4] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8a/DMSA-(2S,3S)-stereoisomer-2D-skeletal.png (17-05-2015)
[5] http://www.waterace.com.br/Imagens/Produtos/carvao%20ativado2.jpg (17-05-2015)
[6] http://en.academic.ru/pictures/enwiki/68/Dimercaprol.svg (17-05-2015)
[7] http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Medta.png (17-05-2015)
[8]http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/60/Penicillamine_structure.png/220px-Penicillamine_structure.png (17-05-2015)